quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A música

"Para Franz, é a arte o que mais se aproxima da beleza dionisíaca concebida como êxtase.
Dificilmente nos atordoamos com um romance ou um quadro, mas podemos nos extasiar com a Nona de Beethoven, com a sonata para dois pianos e a percurssão de Bartók e com uma canção dos Beatles.Franz não faz diferença entre a grande música e a música ligeira.Essa distinção parece-lhe hipócrita e fora de época.Gostava igualmente de rock e Mozart.
Para ele, a música é libertadora: ela o liberta da solidão e da clausura, da poeira das bibliotecas e abre-lhe no corpo as portas por onde a alma pode sair para confraternizar-se.

(...)

Jantaram, subiram para o quarto, fizeram amor.Em seguida, nolimiar do sono, as idéias começaram a se embaralhar na cabeça de Franz.Lembrou-se da música barulhenta do restaurante e pensou: ' O barulho tem uma vantagem.No meio dele não se ouvem as palavras'. Desde sua mocidade, não fazia outra coisa senão falar, escrever, dar cursos, inventar frases, procurar fórmulas, corrigi-las, de maneira que as palavras nada tinham de exato, o sentido delas se apagava, perdiam seu conteúdo, sobrando apenas o cérebro dando-lhe enxaqueca, e que era sua insônia, sua doença.
Teve então a vontade confusa e irresistível de ouvir algazarra, que englobaria, inundaria, esmagaria todas as cosias, que anularia para sempre a dor, a vaidade, a mesquinharia das palavras.
A música era a negação das frases, a música era a antipalavra.Tinha vontade de ficar com Sabina num longo abraço, de calar-se, nunca mais proncunciar uma só frase, deixar o prazer confluir com o clamor orgástico da música.Dormiu nessa bem-aventurada algazarra imaginária"

Leio A insustentável leveza do ser (depois de tanto postergar o livro chegou até mim por um guri do cursinho)

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